Publicado a 29 de janeiro de 2024
Com um simples dispositivo eletrónico e acesso à internet é possível encontrar dezenas de estratégias circulares prontas a serem implementadas. A aplicação de qualquer uma dessas estratégias irá melhorar a sustentabilidade das organizações, mas… se existe informação disponível suficiente e com qualidade, o que estará a bloquear a transição para sistemas económicos mais circulares?
Entendo que há alguns fatores que podem estar a prejudicar esta evolução. O primeiro é, provavelmente, o excesso de informação, que pode estar a atrasar as tomadas de decisão. O segundo é que se todas as empresas têm acesso à mesma informação, têm tendência a agir da mesma forma e perde-se o “efeito surpresa”. O terceiro é que, às vezes, é difícil fazer o alinhamento entre o core business da empresa e os princípios da Economia Circular.
Neste artigo pretendo demonstrar como os princípios da Economia Circular podem ser integrados durante a construção de um plano estratégico de uma empresa.
O desenvolvimento de uma estratégia poderá ser estruturado em três fases:
1. Diagnóstico
A Economia Circular convida-nos a ir para além da dinâmica habitual empresa-cliente e estudar o “Ecossistema” em que se insere (setor de atividade, concorrência, fornecedores e outros stakeholders), avaliando o ciclo de vida dos seus produtos e serviços. Nenhuma empresa será circular sozinha, mas pode e deve trabalhar no sentido de aumentar a circularidade do sistema do qual faz parte. Só assim conseguirá tirar partido do aumento da resiliência que os sistemas circulares oferecem.
No final desta fase a organização deverá conseguir responder à pergunta: O que está a acontecer? A PreZero surge exatamente de um processo semelhante feito em 2009. A empresa foi concebida no departamento de logística de gestão de resíduos da empresa retalhista Lidl, tornando-se na divisão ambiental do Grupo Schwarz.
2. Política orientadora para a circularidade
Esta política terá de explicar a forma como a organização irá responder ao diagnóstico. A resposta irá orientar toda a organização na direção pretendida, sem definir exatamente as ações a executar. Esta é, também, a fase em que a organização terá a oportunidade de inovar, de se destacar, e surpreender os clientes e a concorrência.
Neste ponto queremos ver o método escolhido, respondendo à pergunta: Como vamos agir? A PreZero responde a esta pergunta tomando a decisão estratégica de apoiar os seus parceiros na implementação dos princípios da Economia Circular.
3. Ações Coerentes
Nesta fase a palavra-chave é de facto a coerência! As ações têm de estar alinhadas com a política e responder ao diagnóstico. Na escolha das ações não se pode perder o foco, é necessário priorizar e fazer escolhas.
A PreZero já conta com um portfólio de iniciativas que demonstram a coerência com a política escolhida. A título de exemplo, recentemente, a PreZero Portugal em parceria com a To-Be-Green, desenvolveu um projeto de economia circular, que consistiu na reciclagem de fardamento antigo da empresa, transformando-o em mantas, e evitando, assim, o seu envio para aterro. Outro exemplo que contou com a colaboração da PreZero Portugal como parceiro tecnológico, foi o projeto de reciclagem e valorização de máscaras cirúrgicas descartáveis dos CTT – Correios de Portugal, transformando-as em enfeites de Natal.
Termino realçando que o sucesso de qualquer estratégia depende da capacidade de identificar e explorar novas oportunidades. A elaboração de uma estratégia circular não é uma ciência exata, trata-se antes de usar o pensamento científico na exploração de novas oportunidades. O planeamento estratégico baseia-se, então, numa hipótese a ser testada e da qual se espera retirar aprendizagens, que permitam afinar a direção para modelos de negócio progressivamente mais circulares.
Luís Martins
Responsável de Qualidade, Ambiente e Segurança do Centro de Triagem da Lipor
Engenheiro do Ambiente licenciado pela Universidade Católica Portuguesa. Integrou a Cespa em 2007, permanecendo na empresa após a aquisição da mesma pelo Grupo Ferrovial. Atualmente é Responsável de Qualidade, Ambiente e Segurança da PreZero Portugal no Centro de Triagem da Lipor.